SERMÃO EM APOCALIPSE 3:1-6
INTRODUÇÃO
A história da igreja de Sardes tem muito a ver com a história da cidade de Sardes. A glória de Sardes estava no seu passado. Sardes foi a capital da Lídia no século VII a.C., viveu seu tempo áureo nos dias do rei Creso. Era uma das cidades mais magníficas do mundo nesse tempo.
Situada no alto de uma colina, amuralhada e fortificada, sentia-se imbatível e inexpugnável. Seus soldados e habitantes pensavam que jamais cairiam nas mãos dos inimigos. De fato a cidade jamais fora derrotada por um confronto direto. Seus habitantes eram orgulhosos, arrogantes, e auto-confiantes.
Mas a cidade orgulhosa caiu nas mãos do rei Ciro da Pérsia em 529 a.C., quando este cercou a cidade por 14 dias, e quando seus soldados estavam dormindo, ele penetrou com seus soldados por um buraco na muralha, o único lugar vulnerável, e dominou a cidade. Mais tarde, em 218 a.c., Antíoco Epifânio dominou a cidade da mesma forma. E isso por causa da auto-confiança e falta de vigilância dos seus habitantes. Os membros dessa igreja entenderam claramente o que Jesus estava dizendo, quando afirmou: “Sede vigilantes! ... senão virei como ladrão de noite”.
A cidade foi reconstruída no período de Alexandre Magno e dedicada à deusa Cibele. Essa divindade padroeira era creditada com o poder especial de restaurar vida aos mortos. Mas a igreja estava morrendo e só Jesus poderia dar vida aos crentes.
No ano 17 d.C. Sardes foi parcialmente destruída por um terremoto e reconstruída pelo imperador Tibério. A cidade tornou-se famosa pela alto grau de imoralidade que a invadiu e a decadência que a dominou.
Quando Jão escreveu esta carta, Sardes era uma cidade rica, mas totalmente degenerada. Sua glória estava no passado e seus habitantes entregavam-se agora aos encantos de uma vida de luxúria e prazer. A igreja tornou-se como a cidade. Em vez de influenciar, foi influenciada. Era como sal sem sabor ou uma candeia escondida. A igreja não era nem perigosa nem desajável para a cidade de Sardes.
É nesse contexto que vemos Jesus enviando esta carta à igreja. Sardes era uma poderosa igreja, dona de um grande nome. Uma igreja que tinha nome e fama, mas não vida. Tinha performance, mas não integridade. Tinha obras, mas não dignidade.
A esta igreja Jesus envia uma mensagem revelando a necessidade imperativa de um poderoso reavivamento.Uma atmosfera espiritual sintética substituía o Espírito Santo naquela igreja. Ela subsituía a genuína experiência espiritual por algo simulado. A igreja estava caindo num torpor espiritual e precisava de reavivamento. O primeiro passo para o reavivamento é ter consciência de que há crentes mortos e outros dormindo que precisam ser despertados.
Não é diferente o estado da igreja hoje. Ao sermos confrontados por aquele que anda no meio dos candeeiros, precisamos também tomar conhecimento da nossa necessidade de reavivamento hoje. Devemos olhar para esta carta não como uma relíquia, mas como um espelho, em que nos vemos a nós mesmos.
I. A NECESSIDADE DO REAVIVAMENTO
1. Quando há crentes que só têm o nome no rol da igreja, mas ainda estão mortos espiritualmente, ou seja, ainda não são convertidos – v. 1
· A igreja vivia de aparências - As palavras de Jesus à igreja foram mais bombásticas do que o terremoto que destruiu a cidade no ano 17 d.C. A igreja tinha adquirido um nome. A fama da igreja era notável. A igreja gozava de grande reputação na cidade. Nenhuma falsa doutrina estava prosperando na comunidade. Não se ouve de balaamitas, nem dos nicolaítas, nem mesmo dos falsos ensinos de Jezabel. Aos olhos dos observadores parecia ser uma igreja viva e dinâmica. Tudo na igreja sugeria vida e vigor, mas a igreja estava morta. Era uma igreja apenas de rótulo, de aparência. A maioria dos seus membros ainda não eram convertidos. O diabo não precisou perseguir essa igreja de fora para dentro, ela já estava sendo derrotada pelos seus próprios pecados.
· A igreja parecia mais um cemitério espiritual, do que um jardim cheio de vida – Não nos enganemos acerca de Sardes. Ela não é o que o mundo chamaria de igreja morta. Talvez ela seja considerada viva mesmo pelas igrejas irmãs. Nem ela própria tinha consciência do seu estado espiritual. Todos a reputavam como igreja viva, florescente; todos, com exceção de Cristo. Parecia estar viva, mas na verdade estava morta. Tinha um nome respeitável, mas era só fachada. Quando Jesus examinou a igreja mais profundamente, disse: “Não achei as suas obras íntegra diante do meu Deus” (v. 2). J. I. Packer diz que há igrejas cujos cultos são solenes, mas são como um caixão florido, lá dentro tem um defunto.
· A reputação da igreja era entre as pessoas e não diante de Deus – A igreja tinha fama, mas não vida. Tinha pompa, mas não Pentecoste. Tinha exuberância de vida diante dos homens, mas estava morta diante de Deus. Deus não vê como vê o homem. A fama diante dos homens nem sempre é glória diante de Deus. Aquela igreja estava se transformando apenas em um clube.
· A fé exercida pela igreja era apenas nominal - O Cristianismo da igreja era apenas nominal. Seus membros pertenciam a Cristo apenas de nome, porém não de coração. Tinham fama de vivos; mas na realidade estavam mortos. Fisicamente vivos, espiritualmente mortos. Ilustração: O pastor que anunciou o funeral da igreja. E colocou espelho no fundo do caixão.
2. Quando há crentes que estão no CTI espiritual, em adiantado estadso de enfermidade espiritual – v. 2
· Na igreja havia crentes espiritualmente em estado terminal – A maioria dos crentes apenas tinha seus nomes no rol da igreja, mas não no Livro da Vida. Mas havia também crentes doentes, fracos, em fase terminal. O mundanismo adoece a igreja. O pecado mata a vontade de buscar as coisas de Deus. O pecado mata os sentimentos mais elevados e petrifica o coração. No começo vem dúvidas, medo, tristeza, depois a consciência cauteriza, perde a vergonha. Ilustração: A bebida é a mistura do sangue do pavão, leão, macaco e porco.
3. Quando há crentes que embora estejam em atividade na igreja, levam uma vida sem integridade – v. 2
· Esses crentes têm vida dupla - Suas obras não são íntegras. Eles trabalham, mas apenas sob as luzes da ribalta. Eles promovem seus próprios nomes e não o de Cristo. Buscam a sua própria glória e não a de Cristo. Honram a Deus com os lábios, mas o coração está longe do Senhor (Is 29:13). Os cultos são solenes, mas sem vida, vazios de sentido. A vida dos seus membros estava manchada pelo pecado.
· Esses crentes são como os hipócritas - dão esmolas, oram, jejuam, entregam o dízimo, com o fim da ganhar a reputação de serem religiosos. Eles são como sepulcros caiados. Ostentam aparência de piedade, mas negam seu poder (2 Tm 3:5). É formalidade sem poder, reputação sem realidade, aparência externa sem integridade interna, demonstração sem vida.
· Esses crentes vivem um simulacro da fé, uma faz-de-conta da religião - Cantam hinos de adoração, mas a mente está longe de Deus. Pregam com ardor, mas apenas para exibir sua cultura. Deus quer obediência, a verdade no íntimo. Caim ofertou a Deus, mas sua vida e seu culto foram rejeitados. O povo na época de Isaías comparecia ao templo, mas Deus estava cansado de suas cerimônias pomposas sem o acompanhamento da vida santa. Ananias e Safira ofertam, mas para a promoção de seus próprios nomes. Em Sardes os crentes estão falsamente satisfeitos e confiantes; são falsamente ativos, falsamente devotos e falsamente fiéis.
4. Quando há crentes se contaminando abertamente com o mundanismo – v. 4
· A causa da morte da igreja de Sardes era não a perseguição, nem a heresia, mas o mundanismo – Onde reina a morte pelo pecado, não há morte pelo martírio. A maioria dos crentes estava contaminando as suas vestiduras. Isso é um símbolo da corrupção. O pecado tinha se infiltrado na igreja. Por baixo da aparência piedosa daquela respeitável congregação havia impureza escondida na vida de seus membros.
· Viviam uma vida moralmente frouxa - O mundo estava entrando dentro da igreja. A igreja estava se tornando amiga do mundo, amando o mundo e se conformando com ele. O fermento do mundanismo estava se espalhando na massa e contaminando a maioria dos crentes. Os crentes não tinham coragem de ser diferentes. Eram como Sansão (Jz 14:10) e não como Daniel (Dn 1:8), que resolveu firmemente em seu coração não se contaminar.
II. OS IMPERATIVOS PARA O REAVIVAMENTO
· Aqui estão cinco imperativos de Jesus para a igreja: 1) Sê vigilante; 2) Fortaleça ou consolida o que resta; 3) Lembre-se; 4) Obedeça; 5) Arrependa-se.
· Podemos sintelizar esses imperativos de Jesus, em três aspectos básicos:
1. Uma volta urgente à Palavra de Deus – v. 3
· O que é que eles ouviram e deviam lembrar, guardar e voltar? A Pavra de Deus - A igreja tinha se apartado da pureza da Palavra. O reavimamento é resultado dessa lembrança dos tempos do primeiro amor e dessa volta à Palavra. Uma igreja pode ser reavivada quando ela volta ao passado e lembra os tempos antigos, do seu fervor, do seu entusiasmo, da sua devoção a Jesus. Deixemos que a história passada nos desafie no presente a voltarmo-nos para a Palavra de Deus.
· Lembra-te – “presente imperativo” = segue recordando, nunca esqueça de recordar. Arrepende-te – “aoristo imperativo” = ação completada. Um momento de fazer opção e deixar o mundo para trás, um corte radical com o estilo de vida mundano. Guarda-o – “presente imperativo” = Não deixe de guardar o evangelho. Observa-o. Obedeça-o. Deixe de ser um crente claudicante, que está firme hoje e capenga amanhã.
· Quando uma igreja experimenta um reavivamento ela passa a ter fome da Palavra - O primeiro sinal do reavivamento é a volta do povo de Deus à Palavra. Os crentes passam a ter fome de Deus e da sua Palavra. Começam a se dedicar ao estudo das Escrituras. Abandonam o descaso e a negligência com a Palavra.
· A Palavra torna-se doce como o mel. As antigas veredas se fazem novas e atraentes. A Palavra torna-se viva, deleitosa, transformadora.
· O verdadeiro avivamento é fundamentado na Palavra, orientado e limitado por ela - Ele tem na Bíblia a sua base, sua fonte, sua motivação, seu limite e seus propósitos.
· Avivamento não pode ser confundido com liturgia animada, com culto festivo, inovações litúrgicas, obras abundantes, dons carismáticos, milagres extraordinários. O reavivamento é bíblico ou não vem de Deus.
2. Uma volta à vigilância espiritual – v. 2
· Sardes caiu porque não vigiou - A cidade de Sardes fora invadida e dominada duas vezes porque se sentia muito segura e não vigiou. Jesus alerta a igreja que se ela não vigiar, se ela não acordar, ele virá a ela como o ladrão de noite, inesperadamente. Para aqueles que pensam que estão salvos, mas ainda não se converteram, aquele dia será dia de trevas e não de luz (Mt 7:21-23).
· A igreja precisa estar vigilante contra as ciladas de Satanás, contra a tentação do pecado – Fuja de lugares, situações, pessoas. Cuidado com a vaidade do mundo.
· Alguns membros da igreja em Sardes estavam sonolentos e não mortos - E Jesus os exorta a se levantarem desse sono letárgico (Ef 5:14). Há crentes que estão dormindo espiritualmente. São acomodados, indiferentes às coisas de Deus. Não têm apetite espiritual. Não vibram com as coisas celestiais.
· Os crentes fiéis (v. 4) precisam fortalecer os que estavam com um pé na cova e arrancar aqueles que estavam se contaminando com o mundo - Precisamos vigiar não apenas a nós mesmos, mas os outros também. Uma minoria ativa pode chamar de volta a maioria da morte espiritual. Um remanescente robusto pode fortalecer o que resta e que estava para morrer (v. 4).
· Precisamos vigiar e orar - Os tempos são maus. As pressões são muitas. Os perigos são sutis. O diabo não atacou a igreja de Sardes com perseguição nem com heresia, mas minou a igreja com o mundanismo. Os crentes não estão sendo mortos pela espada do mundo, mas pela amizade com o mundo.
· A igreja de Sardes não era uma igreja herética e apóstata - Não havia heresias nem falsos mestres na igreja. A igreja não sofria perseguição, não era perturbada por heresias, não era importunada por oposição dos judeus. Ela era ortodoxa, mas estava morta. O remanescente fiel devia estar vigilante para não cair em pecado e também para preservar uma igreja decadente da extinção, restabelecendo sua chama e seu ardor pelo Senhor.
3. Uma volta à santidade – v. 4
· O torpor espiritual em Sardes não tinha atingido a todos - Ainda havia algumas pessoas que permaneciam fiéis a Cristo. Embora a igreja estivesse cheia, havia apenas uns poucos que eram crentes verdadeiros e que não haviam se contaminado com o mundo. A maioria dos crentes estava vivendo com vestes manchadas, e não tendas obras íntegras diante de Deus.
· As vestes sujas falam de pecado, de impureza, de mundanismo - Obras sem integridade falam de caráter distorcido, de motivações erradas, de ausência de santidade.
III. O AGENTE DO REAVIVAMENTO
1. Jesus conhece o estado da igreja – v. 1
· Jesus conhece as obras da igreja - Ele conhece a nossa vida, nosso passado, nossos atos, nossas motivações. Seus olhos são como chama de fogo. Ele vê tudo e a tudo sonda.
· A vê que a igreja de Esmirna é pobre, mas aos olhos de Deus é rica. Ele vê que na igreja apóstata de Tiatira, havia um remanescente fiel. Ele vê que a igreja que tem uma grande reputação de ser viva e avivada como Sardes, está morta. Ele vê que uma igreja que tem pouca força como Filadélfia tem uma porta aberta. Ele vê que uma igreja que se considera rica e abastada como Laodicéia não passa de uma igreja pobre e miserável.
· Jesus conhece também esta igreja. Sabe quem somos, como estamos e do que precisamos.
2. Jesus é o dono da igreja – v. 1
· Ele tem as sete estrelas - As estrelas são os anjos das sete igrejas. As estrelas estão nas mãos de Jesus. A igreja pertence a Jesus. Ele controla a igreja. Ele tem autoridade e poder para restaurar a sua igreja. Ele disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra a sua igreja. Ele pode levantar a igreja das cinzas. Ele tem tudo em suas mãos.
· Cristo é o dono da igreja. Ele tem cuidado da igreja. Ele a exorta, consola, cura e restaura.
3. Jesus é quem pode reavivar a igreja por meio do seu Espírito – v. 1
· Jesus tem e oferece a plenitude do Espírito Santo à igreja - O problema da igreja de Sardes era morte espiritual; Cristo é o que tem o Espírito Santo, o único que pode dar vida. A igreja precisa passar por um avivamento ou enfrentará um sepultamento. Somente o sopro do Espírito pode trazer vida para um vale de ossos secos. O profeta Ezequiel fala sobre o vale de ossos secos. “Filho do homem, poderão reviver esses ossos? Senhor Deus, tu o sabes”.
· Uma igreja morta, enferma e sonolenta precisa ser reavivada pelo Espírito Santo - Só o Espírito Santo pode dar vida, e restaurar a vida. Só o sopro de Deus pode fazer com que o vale de ossos secos transforme-se num exército. Jesus é aquele que tem o Espírito e o derrama sobre a sua igreja.
· É pelo poder do Espírito que a igreja se levanta da morte, do sono e do mundanismo para servir a Deus com entusiasmo.
· Jesus é quem envia o Espírito à igreja para reavivá-la - O Espírito Santo é o Espírito de vida para uma igreja morta. Quando ele sopra, a igreja morta e moribunda levanta-se. Quando ele sopra nossa adoração formal passa a ter vida exuberante. Quando ele sopra os crentes têm deleite na oração. Quando ele sopra os crentes são tomados por uma alegria indizível. Quando ele sopra os crentes testemunham de Cristo com poder.
· A Palavra diz que devemos orar no Espírito, pregar no Espírito, adorar no Espírito, viver no Espírito e andar no Espírito. Uma igreja inerte só pode ser reavivada por ele. Uma igreja sonolenta só pode ser despertada por ele. Uma igreja fraca, fortalecida. Uma igreja morta, receber vida.
· Oh! que sejamos crentes cheios do Espírito de Cristo. Uma coisa é possuir o Espírito, outra é ser possuído por ele. Uma coisa é ser habitado pelo Espírito, outra é ser cheio do Espírito. Uma coisa é ter o Espírito residente, outra é ter o Espírito presidente.
IV. AS BÊNÇÃOS DO REAVIVAMENTO
1. Santidade agora, é garantia de glória no futuro – v. 5
· A maioria dos crentes de Sardes tinha contaminado suas vestiduras, isto é, tornaram-se impuros pelo pecado. O vencedor receberia vestes brancas, símbolo de festa, pureza, felicidade e vitória. Sem santidade não há salvação. Sem santificação ninguém verá a Deus. Sem vida com Deus aqui, não haverá vida com Deus no céu. Sem santidade na terra não há glória no céu.
2. Quem não se envergonha de Cristo agora, terá seu nome proclamado no céu por Cristo – v. 5
· Quando uma pessoa morre, tiramos o atestado de óbito. Tira o nome do livro dos vivos. Os nomes dos mortos não constam no registro dos vivos. O salvo jamais será tirado do rol do céu.
· Aqueles que estão mortos espiritualmente e negam a Cristo nesta vida não têm seus nomes escritos no livro da Vida. Mas aqueles que confessam a Cristo, e não se envergonham do seu nome, terão seus nomes confirmados no livro da vida e seus nomes confessados por Cristo diante do Pai. Os crentes fiéis confessam e são confessados.
· Nosso nome pode constar do registro de uma igreja sem estar no registro de Deus. Ter apenas a reputação de estar vivo é insuficiente. Importa que o nosso nome esteja no livro da vida a fim de que seja proclamado por Cristo no céu (Mt 10:32).
CONCLUSÃO
Quem tem ouvidos, ouça o que Espírito diz às igrejas! Que Deus envie sobre nós, nestes dias, um poderoso reavivamento!
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